40 anos do carro a álcool: G1 andou no Fiat 147 'cachacinha'


Apelido foi dado pelo cheiro de bebida que saía do escapamento. Combustível derivado da cana-de-açúcar foi solução brasileira para crise do petróleo nos anos 1970. G1 anda no 'quarentão' Fiat 147, primeiro carro a álcool do Brasil Julho de 1979, Belo Horizonte: o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, estava prestes a ver algo inédito. Não foi nenhuma partida memorável de Atlético X Cruzeiro. Muito menos uma exibição da seleção. A história, na verdade, aconteceu no estacionamento. Ali, dezenas de jornalistas viram primeiro carro movido a álcool no mundo. Era o lançamento do Fiat 147 preparado para ser abastecido com o combustível derivado da cana. Quarenta anos depois, o G1 voltou ao ponto de partida desta história: a fábrica da Fiat em Betim, para dirigir um exemplar do primeiro lote de 147 a álcool. Tem uma boa história com algum carro? Mande seu relato, fotos e vídeos Lançamento do Fiat 147 para a imprensa foi no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte Acervo/Fiat O álcool (na época não se usava o termo etanol) foi a solução brasileira para driblar a crise do petróleo do início dos anos 1970. Mas o primeiro carro a álcool do país só viria 4 anos depois, em 1979 (veja a linha do tempo ao final da reportagem). Fiat 147 1979 Divulgação Conheça o 'cachacinha' A unidade histórica, com placas FO-0292, de Brasília, é preta com uma faixa branca na lateral. A sigla MF pintada nas portas identifica o carro como patrimônio do Ministério da Fazenda (hoje Ministério da Economia), onde serviu por quase 35 anos, encarregado de transportar documentos na capital do país. O veículo, cujo velocímetro aponta pouco mais de 81 mil km – originais, é preciso ressaltar -, ainda pertence ao governo federal. Depois da aposentadoria, foram 5 anos de abandono até a Fiat localizá-lo e e firmar um acordo para cuidar do veículo – que não pode ser vendido, como diz a placa de ferro fixada no painel do 147. Plaqueta no interior do Fiat 147 o identifica como carro do governo Divulgação Hoje, o ele “mora” em Betim, junto com outro exemplar do compacto, também de 1979, mas com motor a gasolina, devidamente restaurado pela Fiat. A comparação entre os dois é inevitável: para desenvolver o motor a álcool, a fabricante italiana deixou de lado o propulsor Fiasa de 1.050 cm³ e optou pelo 1.3. Dele, são extraídos 62 cavalos e 11,5 kgfm, cerca de 10 cv a mais do que no exemplar a gasolina (hoje, um carro 1.3 pode entregar mais de 100 cv). Dirigindo os dois modelos, é possível notar que o 1.3 confere maior agilidade ao 147. Longe de ser um velocista, sua aceleração de 0 a 100 km/h certamente é feita acima dos 15 segundos. Ficha técnica do Fiat 147 a álcool Divulgação Arranha, mas vai Mas não é preciso ter pressa. É hora de aproveitar o passeio pela pista de testes. A "viagem" no tempo começa antes de dar a partida, ao colocar o cinto – subabdominal – e ajeitar o único espelho externo, do lado esquerdo. Interior do Fiat 147 é simples e traz apenas o essencial Divulgação O câmbio de 4 marchas não tem engates precisos – é difícil engatar a primeira sem “arranhar”. A direção, sem qualquer assistência, pode ser considerada leve, enquanto o volante de diâmetro generoso exige boa amplitude no movimento dos braços. Fiat 147 1979 Divulgação É difícil acreditar, mas o espaço interno agrada. O pequeno carro de 3,62 metros de comprimento tem apenas 2,22 m de entre-eixos e 1,54 m de largura. Ainda assim, os dois passageiros dos bancos dianteiros viajam com conforto. No fim da reta, o velocímetro aponta cerca de 75 km/h. Hora de entrar na curva parabólica com ângulo acentuado. O 147 se mostra bem disposto, mas é prudente respeitar os 40 anos que ele carrega. Principalmente na hora de frear. Fiat 147 a álcool 1979 Divulgação Ainda que possua arquitetura parecida com a dos populares modernos (discos na frente e tambor atrás), não há assistência na frenagem. Por isso, é preciso pressionar o pedal com força para obter o resultado desejado. Ao final do passeio, é impossível não perceber o forte cheiro de álcool que invade a cabine. Esta é uma das origens do famoso apelido do 147 a álcool: Cachacinha. Ascensão e declínio do álcool Voltando novamente algumas décadas no tempo, os primeiros clientes do 147 a álcool foram empresas e órgãos governamentais - assim como aconteceu com os carros elétricos. Isso porque era difícil encontrar um posto de combustível que tivesse álcool nas bombas. Em 1979, apenas 16 estabelecimentos podiam abastecer a pequena frota. Em 1979, menos de 20 postos de combustível tinham álcool nas bombas Acervo/Fiat Conforme as fabricantes iam aumentando a oferta de carros a álcool, o número de postos subia. Em 1985, mais de 95% dos veículos novos eram movidos com o combustível vegetal. Só que a situação se inverteu nos anos seguintes. Com a estabilização do preço da gasolina, as dificuldades financeiras das usinas e quebras de safra da cana, o álcool ficou bem menos atrativo. Ao longo dos anos 90, carros novos a álcool eram raridade. E quem tinha modelos usados buscava converter o motor para poder abastecer com gasolina. Primeiro modelo com motor bicombustível, um VW Gol 1.6, surgiu em 2003 Divulgação Uma nova reviravolta foi vista no começo dos anos 2000. Na época, se iniciou uma nova corrida para desenvolver motores que pudesse beber álcool e gasolina, os chamados flex. A ganhadora, dessa vez, foi a Volkswagen, com o Gol 1.6 Total Flex de 2003. Novamente o álcool ficou “pop”, com direito a carros de luxo podendo receber o combustível mais brasileiro que há. E o futuro? O etanol ainda é menos vantajoso do que a gasolina na maior parte dos estados brasileiros. Porém, o combustível é um trunfo na questão ambiental. Considerando todo o processo de produção do combustível, até a emissão de poluentes dos veículos, ele é bem mais eficiente do que gasolina e diesel. Ele também é visto como uma solução brasileira aos veículos elétricos. Toyota anunciou versão híbrida do Corolla com motor elétrico e flex Guilherme Fontana/G1 Até por isso, sua terceira fase evolutiva está batendo na porta. Nos próximos meses, a Toyota lançará o primeiro híbrido que pode ser abastecido com etanol no mundo: a próxima geração do Corolla. Com ele, a marca promete entregar o híbrido mais limpo do mundo. Em paralelo, a Nissan trabalha em parceria com a Unicamp, de Campinas (SP) no uso do etanol para carregar baterias de veículos elétricos. A própria Fiat também aposta no etanol para o futuro. A marca está desenvolvendo um motor turbo de injeção direta que poderá ser abastecido apenas com etanol. O objetivo é igualar a eficiência térmica da gasolina. Seu lançamento está previsto para 2022. E o "Cachacinha", do alto de seus 40 anos, se mostra mais atual do que nunca. Linha do tempo do carro a álcool no Brasil Fotos: divulgação. Arte: Wagner Magalhães/G1 Fiat 147 1979 Divulgação Fiat 147 1979 Divulgação Fiat 147 1979 Divulgação/Leo Lara

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