Indústria automotiva vai precisar de R$ 40 bi para passar pelo auge da crise, diz presidente da Volkswagen do Brasil


Montante é equivalente ao que seria investido em 4 ou 5 anos, diz Pablo Di Si, que afirma que setor tem buscado empréstimos, e não subsídios do governo, durante a pandemia. Marca pretende retomar produção no mês que vem. Pablo Di Si, presidente da Volkswagen do Brasil, no lançamento do SUV T-Cross, em 2019 Divulgação/Volkswagen "É uma crise sem precedentes. A história nunca viu o mundo parar todas as regiões e todas as indústrias ao mesmo tempo. A saída não vai ser instantânea", resumiu o presidente da Volkswagen para a América Latina, o argentino Pablo Di Si, sobre os efeitos da pandemia do coronavírus. Ele reuniu jornalistas nesta quinta-feira (23), para uma conversa pela internet, onde detalhou os planos de retomada da produção no Brasil a partir do mês que vem, "quando for legal" fazê-lo. A previsão é reabrir a fábrica de motores de São Carlos (SP) no próximo dia 8, e, as demais, a partir de 18 de maio. Assim como todas as montadoras de carros e motos do país, a Volkswagen parou as linhas em meados de março. Vice-líder em vendas, a marca já acertou com os trabalhadores a redução de jornada e salários em 30%, por 3 meses, lançando mão da Medida Provisória 936, que flexibilizou as regras trabalhistas temporariamente. Ela também está sendo usada por outros montadoras, como a General Motors, dona da Chevrolet, e a Fiat. Nesse caso, o governo federal "compensa" parte do salário que o funcionário deixa de receber com um benefício emergencial que terá como base de cálculo o valor mensal do seguro-desemprego a que o empregado teria direito se fosse demitido. Para Di Si, o setor automotivo vai precisar de R$ 40 bilhões para passar pelo auge da crise, que deve ser estender por junho e julho. Isso, segundo ele, é o equivalente ao que as montadoras investiriam em 3 ou 4 anos. O argentino e outros executivos da indústria têm conversado com o governo federal e bancos privados para obter esse montante por meio de empréstimos. "Não (buscamos) dinheiro público", disse. "E não estamos pedindo para a gente. É para toda a cadeia, para concessionários e fornecedores, os elos mais fracos." Segundo o presidente da Volks, as conversas com o governo estão "caminhando bem", mas ainda não há nada definido. "Se não sair nas próximas semanas, eles (fornecedores e lojistas) não têm como pagar os salários. Estamos falando em quase 1 milhão de empregos", observou. Além o ministro da Economia, Paulo Guedes, participam da negociação representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um "sindicato de bancos" privados, liderado pelo Itaú. Lideranças do setor automotivo têm criticado o sistema financeiro pela demora em ajudar o setor. O presidente da associação das fabricantes, a Anfavea, chegou a dizer em março que "os bancos estão sentados na liquidez" porque receberam recursos do Banco Central, mas não repassaram. Di Si também falou sobre o "congelamento" dos investimentos no Brasil, as mudanças no modelo de negócios que deverão ser aceleradas pela crise, entre outros assuntos. Veja destaques: Próximos lançamentos O executivo confirmou que o SUV Nivus, menor que o T-Cross, teve seu lançamento mantido para fim de junho ou começo de julho. A Volkswagen também vai colocar no mercado um novo sistema de entretenimento a bordo, o VW Play, que foi desenvolvido no Brasil e será apresentado nos próximos dias. "A qualidade da tela é a melhor", prometeu Di Si. Investimentos congelados A Volkswagen se aproxima do fim do ciclo de R$ 7 bilhões a serem investidos no Brasil até o fim do ano. "Eles vão ser investidos", disse o presidente. O plano inclui o lançamento do Nivus e da picape média Tarek. Mas um novo ciclo, que, segundo ele, estava para ser anunciado, agora está "congelado". Carros ficarão mais caros Di Si confirmou que o dólar alto frente ao real deverá refletir em preços mais altos dos carros na reabertura das lojas, mas evitou estimar o quanto. Para ele, é importante que a produção acompanhe a demanda, na retomada, para evitar uma "guerra de preços" entre as marcas. Mas o problema, segundo o executivo, é não ser possível prever como estará o mercado brasileiro nos próximos meses. "É crítico começarmos (a produção) com 1 turno, bem devagar, e produzir de acordo com a demanda. Senão, teremos guerra de preços", avaliou. "Mas entender a demanda vai ser difícil. Quem sabe como será o mercado em maio, junho?", questionou. "Depende do desemprego, da inadimplência, do apetite por risco dos bancos (para financiamentos, por exemplo), porque nossa indústria é movida a crédito." Carros mais simples vão predominar Di Si também foi questionado se, com a crise, os consumidores buscarão mais os carros mais baratos. "Passei 3 crises no Brasil, em diferentes empresas, e, obviamente, nessas horas, o segmento vai para produtos (de preços) mais baixos", concordou. O presidente deixou no ar uma pergunta: "O que vai acontecer com o segmento de SUVs?'. Esse modelo de veículos só cresceu nos últimos anos em todo o mundo, e é o principal alvo dos investimentos da Volkswagen no Brasil. Carro por assinatura e venda virtual O executivo explicou que algumas mudanças no jeito de se vender carros que já estavam em andamento antes da crise serão aceleradas por ela. Uma é o uso da internet pelos concessionários para vender carros. "Esta a ferramenta a ser desenvolvida", afirmou o argentino. A Volkswagen começou a investir nesse formato no ano passado, para que vendedores pudessem visitar clientes e fazer negócios fora da loja. O ambiente virtual também possibilita lojas menores do que as tradicionais concessionárias, que exibem toda a linha em seu espaço. A montadora também tem feito um piloto de aluguel de curto e médio prazo, o chamado carro por assinatura, que já é sucesso para locadoras. "Isso vai acelerar na crise, principalmente por falta de acesso a crédito (para compra de um carro)", afirmou Di Si. China não é referência Di Si comentou sobre a recuperação de vendas na China, que, em abril, voltou a passar de 1 milhão de emplacamentos após a pandemia dar sinais de retrocesso no país onde tudo começou. "As pessoas não querem pegar transporte público lá", apontou. "É uma retomada muito positiva. Mas não acredito que será assim com Europa, Estados Unidos e nem no Brasil." O que muda nas fábricas Di Si informou que as fábricas foram adaptadas para a reabertura durante a pandemia. Além de São Carlos, a Volkswagen possui unidades em São Bernardo do Campo e Taubaté, também no estado de SP, e em São Carlos do Pinhal, no Paraná. As mudanças vão desde a ocupação dos assentos nos ônibus, que deverá ser mais espaçada, à passagem pela catraca da entrada sem colocar a mão nela e a marcação no chão da fábrica para que seja mantida a distância de 2 metros entre as pessoas. "Todos os funcionários terão a temperatura medida diariamente, inclusive eu", afirmou. Funcionários que estiverem no grupo de risco da Covid-19 deverão continuar em casa.

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